quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A história viva de Tarrafal


Dona Beba, moradora da vila do Tarrafal, tem 98 anos e é conhecida por todos devido a sua longa e rica experiência de vida. É uma das poucas pessoas da região que teve a oportunidade de conhecer e estabelecer contacto com alguns dos presos ( pessoas que eram contra o salazarismo ) do Campo de Concentração.

Diz ela que Chão Bom ( onde ficava o Campo de Concentração ) estava a cerca de 2 Km da Vila e era deserto
Os presos, ao chegarem, eram colocados dentro de um camião, cobertos por um pano preto, de forma a não conhecerem o caminho e depois transportados para o campo.

Na época, juntamente com o marido, D. Beba tinha uma mercearia que fornecia ao Campo de Concentracão os artigos de que necessitavam, mas ela nunca via os presos dentro do campo, pois os artigos eram enviados para o local, e depois um guarda se deslocava á merceria para fazer o pagamento.
Á pedido de alguns familiares dos presos ( que se hospedavam em sua casa, quando chegavam a Vila do Tarrafal ) ela passou a visitar alguns presos, de forma a “ ajuda-los” com aquilo que necessitavam.
Quando ela se encontrava com os presos, o assunto entre eles era muito limitado pois sempre havia presente um guarda na sala, ouvindo as conversas .
Fora do Campo de Concentraçnao, os presos não podiam falar com ninguem. Recorda-se que um dia foi á praia de mar ( que fica a beira do Campo de Concentração) para fazer um piquinique e nesse dia os presos tambem ali se encontavam para tomar banho. Ao falar com um dos presos conhecido por ela, foi ignorada, não entendo o motivo. Só depois de ter ido visitar o mesmo no Campo de Concentracão ele explicou que não podia falar com ela porque corria o risco de ir para a “FRIGIDEIRA” ( espaço de pequena dimenção onde os presos permaneciam durante vários dias de pé )

Como conhecia a realidade dos presos , por ser cristã e ter desenvolviso laços de afecto com eles, D. Beba pediu permissão ao Director do Campo de Concentração e durante vários anos ela organizou festas de Natal para os eles.
Foi com muito orgulho que Dona Beba assistiu á libertação dos presos em 1974. Lembra-se que um deles de tão emocionado que estava, saltou o murro da prisão, ao invés de sair pela porta.
Devido a atencão, ao carinho que ela transmitia aos presos, passou a ser considerada como uma mãe para eles.
Após á libertação, á convite de um preso angolano, passou 12 dias em Angola, juntamente com o marido.
D. Beba manteve contacto e recebeu visitas de alguns presos durante algum tempo mas actualmete não tem contacto com nenhum deles.
Não se arrepende do que fez e voltaria a fazer tudo de novo pois foi fez tudo com boa vontade e de coração.


De Sofia Varela 

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